Quando se trata do bem-estar de um filho, o mundo parece pequeno demais para conter o amor; e grande demais quando se procura respostas. Lukeny, em Os Kambas, representa tantas mães e pais que, no desespero de ajudar os seus filhos, acabam vulneráveis a promessas fáceis, mitos e falsas soluções.
A sua ida à cidade não era só uma viagem: era um grito de socorro. Um pedido silencioso de esperança.
E foi nesse silêncio que Mukulu Pacheco - um fitoterapeuta conhecido pela sua lábia e pelas suas ervas “milagrosas”, encontrou espaço para agir. Charlatão experiente, mistura raízes, troca receitas, promete o impossível e nunca admite erro. Vive do desespero dos outros - um padrão demasiado comum na nossa sociedade.
O peso da desinformação
Em muitos lares, falar de autismo, PDI e outras condições ainda é tabu. Há quem acredite que existe cura. Há quem ache que é “birra”, “falta de educação”, “coisa espiritual”. E há quem, sem informação suficiente, aceita qualquer promessa com a esperança de aliviar o próprio coração.
Lukeny não procurava magia. Procurava alívio. Procurava um futuro para o Bruno. Mas quando não entendemos uma condição, somos mais facilmente enganados.
Mitos que precisam ser desfeitos
- Autismo não tem cura.
Tem acompanhamento, inclusão, estrutura, amor, compreensão e suporte multidisciplinar. - Plantas, rezas, banhos especiais ou poções não resolvem condições neurodesenvolvimentais.
- Promessas de cura rápida são sempre sinal de golpe.
- Desespero não é vulnerabilidade pessoal - é resultado de falta de apoio, orientação e comunidade.
O amor que sacrifica, mas também cega
Lukeny é mãe. E mães atravessam mares, sobem montanhas, desafiam o mundo pelos seus filhos.
Mas esse amor, sem orientação, transforma-se em terreno fértil para oportunistas.
E Mukulu Pacheco representa todos aqueles que lucram vendendo falsas esperanças:
– a mulher que diz ter chá que “faz engravidar”,
– o vizinho que garante ter cura para doenças genéticas,
– o curandeiro que jura resolver tudo em três dias,
– o “especialista” que inventa terapias sem evidência científica.
Quando alguém está vulnerável, qualquer promessa parece solução.
O papel da comunidade e da solidariedade
- Uma comunidade informada é uma comunidade forte.
- Uma família apoiada é uma família protegida.
- Um cuidador acompanhado é um cuidador resistente.
Partilhar informação, ouvir sem julgar, orientar, criar redes de apoio e combater mitos - tudo isso salva pessoas de situações como a de Lukeny.
A verdadeira cura está na união, não na poção.
A lição deste episódio
Não existe vergonha em procurar ajuda. O erro não está em amar demais - mas em estar sozinho quando se precisa de orientação.
Por isso, precisamos de comunidades que acolhem, não que criticam.
Precisamos de informação segura, não de mitos perigosos.
E precisamos de empatia; sempre.
A história de Lukeny e Bruno está longe do fim.
E cada episódio abre uma conversa que Angola precisa ter.
Acompanhe Os Kambas, Segunda a Quinta às 20h30, no Kwenda Magic p.505 da DStv, e junte-se a esta reflexão sobre amor, desespero, esperança e informação.
A novela é ficção - mas os temas são reais.
