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O Quarto da Discórdia - Rossana, o Poder de Nkanda e a Revolta de Kwame

Notícias04 Setembro 2025
Uma briga de família em plena telenovela que põe à prova tradições, autoridade paterna e o desejo de independência dos jovens; entre Nkanda e Kwame não há meias-palavras nem soluções fáceis. Leia, decida e venha debater.
Os Kambas T1

A cena foi um soco no estômago: Kwame, magoado e indignado, recusa-se a perder o próprio quarto para dar espaço à nova e mais jovem esposa do pai, Rossana. Nkanda não hesitou em mandar o filho juntar-se aos irmãos e propôs uma saída drástica: “se não gostas das minhas regras, arruma as tuas coisas e vai-te embora”. O choque de gerações, de valores e de ambições explode ali, ao som de palavras carregadas de mágoa e orgulho.

Esta história em Os Kambas abre a caixa de Pandora sobre várias questões que fervilham na sociedade: até que ponto “minha casa, minhas regras” se aplica entre pai e filho? Kwame está a pedir o impossível ou é legítimo esperar respeito à sua privacidade? Nkanda age como um pai firme ou como um chefe que pune sem diálogo? Vamos destrinchar.

O caso de Nkanda - autoridade, tradição e liberdade de gestão do lar

Do ponto de vista de Nkanda, a decisão parece coerente com a sua posição de cabeça de família. Em famílias polígamas e patriarcais, é comum que o chefe tome decisões por “bem maior”; organização da casa, hierarquia entre esposas, e manutenção da ordem. Nkanda equaciona que Rossana, sendo nova e esposa, deve ter o quarto próprio tal como as outras. Para ele, Kwame é um jovem que ainda não assumiu as responsabilidades de um homem “feito”: “Se fosses um homem sério e responsável, já estarias casado na tua casa e com tua própria esposa.” Essa palavra - “responsável”: resume a exigência do pai: autonomia e participação na ordem familiar.

Nkanda também usa o argumento de autoridade: casa dele, regras dele. Há quem defenda que um proprietário ou chefe de família tem legitimidade para organizar o lar como entender. Em contextos onde a tradição pesa, muitos vão concordar: “é assim que sempre foi, e assim será”.

O caso de Kwame - privacidade, sacrifício e ambição

Por outro lado, Kwame não fala só de um quarto. Fala de identidade, privacidade e reconhecimento pelo que já faz pela família: “Eu estudei, eu trabalho na fazenda, faço tudo para ajudar aqui em casa…”. Para ele, ceder o quarto é uma desvalorização; um sinal de que o seu esforço e o seu lugar na casa não são reconhecidos. Há ainda o ingrediente emocional: ciúme, desejo de poder e ambição de modernizar os negócios do pai. Kwame quer mudar o jogo; quer comandar e ser visto como herdeiro e inovador. Ser deslocado para um quarto comunal é, aos olhos dele, um recuo social e pessoal.

Também pesa sobre Kwame o facto de, segundo o resumo, não contribuir financeiramente. Isso fragiliza o seu argumento: qualquer pedido por direitos dentro de uma casa normalmente vem acompanhado de responsabilidade. A frustração, porém, é genuína; ele sente-se humilhado.

Quem está certo? 

A resposta simples seria: os dois têm razão e os dois estão errados. Explico.

  • Nkanda tem autoridade e uma lógica de organização da casa; porém, a forma importa. Mandar um filho embora sem diálogo, como punição imediata, é duro e pode ser contraproducente. Um pai tem responsabilidade afectiva - guiar e moldar, não apenas impor e expulsar.
  • Kwame tem motivos legítimos para sentir raiva e querer respeito; no entanto, a cobrança perde força quando não existe compromisso prático (participação nas despesas, diálogo para expor projetos, prova de responsabilidade). Revoltar-se sem apresentar alternativas maduras também fragiliza a sua posição.

Num debate público, parte da sociedade mais tradicional tenderá a apoiar Nkanda; a juventude e quem advoga mudança e direitos individuais vai torcer por Kwame. Em Angola, como em muitos contextos, o choque gera polarização: “os mais velhos dizem que é ordem; os mais novos dizem que é humilhação.”

A lei do “my house, my rules” aplica-se aqui?

Legalmente, cabe ao dono da casa regular quem nela vive. Ética e afecto, porém, não se resolvem com propriedade. “Minha casa, minhas regras” é um princípio válido até certo ponto - não justifica humilhação, expulsão sem rede de apoio ou decisões que prejudiquem relações familiares. Pais podem exigir respeito, mas também têm o dever de educar, negociar e preparar a saída do filho (se essa saída for desejada).

Como resolver isso sem partir corações?

Aqui vão soluções práticas e realistas que fariam sentido dentro e fora da ficção:

  1. Diálogo mediado - uma conversa com um terceiro (um tio respeitado, conselheiro da comunidade) para alinhar expectativas e prazos.
  2. Plano de transição - Nkanda pode propor um cronograma: Kwame contribui mais, recebe projecto para gerir (provar capacidade) e ganha autonomia temporalmente.
  3. Compensação - se Rossana precisa do quarto, oferecer ao filho alternativas dignas (arranjar outro espaço, investir para ele ter um quarto próprio na propriedade).
  4. Negociação financeira - Kwame passa a contribuir e, em troca, mantém a sua privacidade.
  5. Desenvolver liderança - envolver Kwame nos negócios do pai, com metas claras; se cumprir, ganha benefícios.

A lição de vida

Família é mistura de direito e dever, de amor e regra. A grande lição aqui é simples: autoridade sem empatia vira abuso; rebeldia sem responsabilidade vira imaturidade. O equilíbrio exige comunicação, compromissos concretos e uma boa dose de humildade de ambos os lados.

Quem está certo? Depende do prisma. Mas uma coisa é certa: expulsar ninguém é sempre a melhor solução. Crescer em família passa por ensinar a sair; mas também por ajudar a construir pontes, não muros.

Quer ver o próximo capítulo desta guerra de egos e afetos? Sintonize Os Kambas - dias de semana, Kwenda Magic, p.505 da DStv, às 20:30. Depois vem aqui discutir: de que lado você fica?